Vivendo o melhor dos mundos
Em seu sexto CD, Signo de Ar, o carioca Jorge Vercilo curte a condição de celebridade batalhada e se diz realizado
O destino do cantor, compositor e violonista carioca Jorge Vercilo, de 34 anos, é dos mais interessantes nos seus onze anos de carreira. Isso porque ele virou uma celebridade musical que não nasceu da vontade de alguma gravadora de apostar no seu talento. Era um independente fazedor de sucessos cercado por astros de grandes gravadoras. Hoje, quando lança o seu sexto álbum, o superproduzido Signo de Ar por uma major, EMI, Vercilo é praticamente um superastro de grande gravadora cercado de grandes figuras da MPB que se bandearam para os selos alternativos e a música independente. Seus cinco álbuns anteriores venderam perto de 600 mil cópias. Um número impressionante nos anos em que o mercado da música sofreu uma implosão violenta.
Mas a conquista não embriaga esse libriano (signo de ar) que se diz sempre disposto a recomeçar, mesmo ao preço de uma retirada estratégica, como fez no ano passado, para se dar um tempo para produzir Signo de AR.
"Batalhei meu lugar", orgulha-se. "E sei que, se tiver de voltar a ser independente, saberei como fazê-lo com a mesma alegria e entusiasmo". Lembra que conquistou o mercado das bordas para o centro, primeiro no Ceará e em Pernambuco, para só depois chegar no eixo Rio-São Paulo. "O segredo do sucesso é começar da periferia e se afirmar quando você já tem um público", ensina. "Não adianta querer estourar na hora. Você precisa de uma base sólida de público."
Vercilo atribuiu à pirataria e à internet uma transformação do mercado que, até certo ponto, foi positiva. "O jabá deixou de ser uma instituição ilícita", diz. "Hoje uma emissora de rádio não aceita dinheiro para tocar uma música que sabe que não vai faze sucesso. Aquilo que se chamava jabá virou um contrato profissional, assinado e documentado." E se a música for boa segundo os padrões vigentes, argumenta, pode tocar sem ajuda de promoção. "Sempre lutei para democratizar o espaço da música. Acho que ajudei nesse processo".
Quando Jorge Luís Sant’Anna Vercilo apareceu, em 1994, causou surpresa por suas canções românticas e sobretudo pela coragem com que se lançou para o estrelato, sem as redes e amparos das majors. Ele próprio bancou a produção de seu primeiro CD, Encontro das Águas, lançado pela Continental. Algumas canções, como a faixa-título, entrou na trilha-sonora da novela Mulheres de Areia. A canção "Praia Nua", influenciada por Djavan, estourou na trilha de outra novela, "Tropicaliente". Oo processo se repetiu no disco seguinte, Em Tudo que é Belo, que gerou hits que tocaram em novelas e foram dando ao músico o status de um talentoso discípulo de Djavan e Stevie Wonder. O caminho independente também criou uma distinção em relação aos suprerastros da época, ainda atrelados às grandes gravadoras. Herói "indie", Vercilo começou a conquistar o estrelato no finalzinho do século passado, com o CD Leve, também independente, agora sem gravadora. O trabalho lhe rendeu a vendagem de 70 mil cópias. A música que fez o disco decolar foi a canção "Final Feliz", na qual Vercilo fazia duetos com ninguém menos que Djavan. O encontro com o ídolo serviu também para que ele ganhasse uma espécie de autonomia artística. Gravou "Beatriz", de Edu Lobo e Chico Buarque, e iniciou parcerias com ídolos menos conhecidos, mas não menos importantes, como Altay Veloso e Aladim, com os quais escreveu a ótima canção "Apesar de Ciganos".
"Meu contato com outros parceiros só fez crescer como tempo", conta. "E acho que a comparação com Djavan está agora superada".
A semelhança ainda os une, mas é impossível negar o talento melódico, a fluência das letras e o irresistível suingue de Vercilo. Ele se afirmou definitivamente como músico, conta, com o CD Elo, de 2002, o primeiro pela EMI. O trabalho vendeu 250.000 cópias e mais uma vez colocou o astro no pódio. Isso lhe permitiu ousar e provar a sua densidade musical num CD basicamente de MPB, intitulado Livre. A música que fez sucesso foi a que mais remetia ao caráter popular de seus discos anteriores: "Monalisa". "Foi quase um disco hermético, se você pensar no ritmo em que eu estava", reconhece o músico. Seu grande consolo foi ter conquistado a crítica. "Até então, os críticos diziam muita besteira a meu respeito", analisa. "A partir de Livre, eles acharam que eu merecia figurar entere os talentos da MPB".
Decidiu dar um tempo, até para não canibalizar a reputação. "Apareci muito em 2002 e 2003 e resolvi parar para compor, até para recompor também a minha vida pessoal. Aprendi nesses meses que o músico precisa exercer o domínio do sucesso. Saber quando voltar e quando parar, saber o que vai para as paradas e o que toca os críticos".
Signo de Ar é uma tomada de consciência, explica. Com duas músicas feitas em parceria com Ana Carolina ("Ultra-leve amor" e "Abismo"), ele pretende conquistar o público roqueiro. "Eu nunca tinha enveredado pelo rock, e com Ana Carolina, tão diferente de mim, ganhei esse impulso". Entre as músicas do CD, destacam-se também "Olhos de Ísis", com melodia fluida e versos bem típicos da imaginação de Vercilo: "Você é filha de Osiris/ pode volatizar/ se transforma em arco-íris; só pra me apaixonar". Os arranjos são vibrantes, contando com guitarras e solos de harmônica à Stevie Wonder, a cargo de Milton Guedes. As dez faixas formam um CD curto, de cerca de 40 minutos, mas absolutamente equilibrado. Revela-se nele a virtude melódica ímpar de Jorge Vercilo.
Revigorado, ei-lo novamente na estrada. Ele parte para turnê nacional e vai lançar até o fim do ano o seu primeiro DVD ao vivo, gravado na estrada. "Hoje as pessoas não se satisfazem mais apenas com o áudio", observa. "Ver o músico cantar é um componente necessário e essencial do trabalho". E não pára por aí: este ano começa a carreira internacionall. Inicia por Portugal e depois ataca a América Latina. Ninguém mais o segura. "Não temo mais nada", anuncia o astro. Os fãs de Norte a Sul que se preparem.
Luís Antônio Giron
1 Comments:
Legal Ler sobre pessoas vencedoras.
Post a Comment
Subscribe to Post Comments [Atom]
<< Home