Fonotipia

Vou postar aqui comentários de CDs e DVDs musicais. Luís Antônio Giron

Friday, July 01, 2005

Bossa Nova Internacional


Não foi por acaso que o pagodeiro latino Alexandre Pires cantou Garota de Ipanema para George W. Bush na Casa Branca no início de outubro. Pires, um gênio do marketing, sabe que músicas de sua autoria – como "A Barata da Vizinha " ou "Sai da Minha Aba" não conquistariam a simpatia da elite dos falcões de Bush. Ele optou pela bossa nova pro motivos óbvios – e cantou muito bem, aliás, o clásssico de Tom e Vinicius. Bossa Nova é o cartão de crédito do músico brasileiro no exterior. O marco mais importante da conquista dos mercados internacionais pela música popular brasileira foi o show da Bossa Nova o Carnegie Hall de Nova York em 1962. A partir de então, o Brasil se adaptou ao gosto internacional.
De alguma forma, o cool samba da BN funcionou como sopa no mel dos ouvidos americanos. Os músicos brasileiros incorporaram elementos do jazz, desnacionalizaram e privatizaram o samba. O samba-exaltação de Ary Barroso está para o Estado Novo e o nacionalismo de Vargas assim como a Bossa Nova está para a internacionalização de Juscelino Kubitschek. A bossa nova produziu um samba capaz de agradar os americanos e o público europeu porque já se tratava de um gênero da linha de montagem do pós-guerra, como o baião, o rock, o cha-cha-cha. Os críticos americanos perceberam o parentesco da BN com o cool, sem prestar atenção a supostas qualidades poéticas das letras de Vinicius de Moraes e Carlos Lyra. A bossa nova agradou enquanto funcionava como muzak, como fundo para elevadores, "Garota de Ipanema" em lobbies de hotel de luxo. A bossa nova representou a padronização e a qualidade do produto sonoro de exportação brasileiro. Os músicos e produtores desenvolveram o produto com cuidado e extrema inspiração. Até hoje não foi superado, e bossa nova é sinônjimo de música brasileira no exterior, seja Estados Unidos, Europa e Japão – que se tornou campo de trabalho para artistas que, se permanecessem confiando no público consumidor brasileiro, estariam já aposentados.
A Bossa Nova ainda movimenta o mercado internacional e o que se seguiu aproveita o vácuo da alta velocidade com que atuam bossa-novistas do calibre de João Donato, Roberto Menescal, Joyce e princpalmente João Gilberto – um merecido ídolo planetário.
Outro que conseguiu chegar lá foi Milton Nascimento, em 1969. Suas toadas tributárias da BN caíram no gosto americano e suíço porque Milton tem uma cultura musical imensa, e é capaz de adaptar os ritmos e arranjos brasileiros aos padrões do jazz suave. O mesmo se deu em meados dos anos 70 com o pianista Egberto Gismonti, que acabou virando um músico estrangeiro e jazzzista, tanto que se conformou ao modelo ECM Records – gravadora sediada em Munique e que formatou um estilo requintado de música instrumental. Chico Buarque arrebanhou o público italiano, mas ficou nisso, como uma espécie de seguidor desafinado do cunhado, João Gilberto, que foi casado com Miúcha, irmã de Chico.
Os tropicalistas é que não conseguiram nada no estrangeiro na época, apesar da pretensão-monstro de seus líderes de conquistar o mundo. Tardiamente, Caetano Veloso adquiriu fama nos Estados Unidos porque assumiu uma estética conformista e investiu no consumidor latino de Miami com suas canções em espanhol ou arremedos de Bossa Nova.
Nos anos 80, o rock dominou o Brasil e tirou do país a oportunidade de exportar música, já que o rock é marca registrada dos americanos e ingleses, ninguém faz rock melhor que eles. Quando samba voltou aos poucos a ser fashion nos anos 90, assistiu-se à ascensão de Tom Zé, um tardo-tropicalista que caiu no gosto da vanguarda do Village nova-iorquino, e dos modernos Chico Science e Lenine.
Mas quem opta pela bossa se dá melhor. Bebel Gilberto, filha de João Gilberto, fez sucesso no ano 2000 em Londres e Nova York com sua bossa-novíssima por conta do efeito bossa-nova. Ela como que fez despertar a cobiça dos DJs e produtores para o processamento do gênero para o lounge, para os chill-outs da vida. Hoje, internacionalmente, a bossa nova continua dominando por meio da eletrônica. O samba joão-gilbertiano se adaptou maravilhosamente às atmosferas rarefeitas da música eletrônica.

L.A.G.

1 Comments:

Blogger ADEMAR AMANCIO said...

A bossa-nova,também,foi usada nos Estados Unidos como música de elevador.
Sei.

8:15 AM  

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