Selo Elenco, uma mini-história
O selo Elenco marcou o esplendor do desenho limpo e sintético da bossa nova. Nas atuais horas de lounge, ele retorna forte na Série Elenco (Universal), coleção de vinte CDs com álbuns remasterizados digitalmente e com as capas originais. Todos itens essenciais. Isso porque havia uma estética a reger os produtos e cada faixa gravada do selo Elenco, pioneiro da produção independente. Ele foi fundado em 1963 por Aloysio de Oliveira (1914-1995), ex-vocalista do Bando da Lua . Cantor e compositor de excelente formação, Aloysio soube criar uma noção de som cristalino e arranjos acústicos. O projeto gráfico de Cesar Villela refletia a intenção: o logo do selo sempre em destaque, fotos em alto-contraste petro e branco ou, no máximo, cores básicas.
Aloysio embarcou para os Estados Unidos com Carmen Miranda em 1939 e excursionou por lá com a estrela por duas décadas. Os dois tiveram um longo caso, até que a estrela decidiu casar-se com seu produtor, David Sebastian. Com a morte de Carmen, em 1955, Aloysio ainda manteve o Bando da Lua. Em 1956, trocou Hollywood pelo Rio para consolidar o estilo da bossa nova, que começava a se afirmar. Como diretor artístico da gravadora Odeon, lançou Tom Jobim, João Gilberto e a cantora Sylvia Tellesm, com quem se casaria em 1960. Assumiu a Phillips em 1960 e continuou animando a nova música brasileira. Em 1963, tomou a decisão de fundar uma gravadora. Alubou um escritório minúsculo no centro do Rio, contratou os estúdios da Rio-Som e convocou os grandes músicos bossa-novistas, como Tom Jobim, Maysa e Sergio Mendes, sem esquecer de alguns medalhões da velha guarda, como Cyro Monteiro e Aracy de almeida. Também farejou o sucesso de novíssimos talentos, como Maria Bethânia e Edu Lobo.
Em 1967, quando a bossa saiu de moda, Aloyisio sentiu a crise. Viúvo de Sylvia Telles (que morrera num acidente de carro), decidiu vender o selo para a Philips e voltou para os Estados Unidos. Morreu como um nostálgico guru da grande música.
As gravações comandadas por Aloysio fizeram história. São cinqüenta discos, com um elenco de fazer inveja até hjoje. Eles flagraram a passagem dos seguidores da batida e do canto introspectivo de João Gilberto para a geração da MPB, espontânea e rebelde.
Metade dos títulos da Série Elenco, organizada pelo pesquisador Charles Gavin e com comentários do jornalista Ruy Castro, chega pela primeira vez ao CD. Um novo suplemento deverá comepletar o catálogo até o fim de 2004. Cada disco oferece uma descoberta ou um reencontro Entre eles destacam-se três de 1966: Bossa Nova York, com Sergio Mendes Trio com convidados como o trompetista Art Farmer – e Contrastes, com a atriz Odette Lara estreando sambas de Chico Buarque; e Samba é Aracy de Almeida, com a cantora arrasando no samba esquema moderno. Outro título importante é The Astrud Gilberto Album, com a ex-mulher de João Gilberto. Ela foi meio esquecida no Brasil, mas se tornou cult entre japoneses e americanos pela absoluta ausência de vibratos no seu canto. Cyro Monteiro em "De Vinicius a Baden" e Lúcio Alves, no superclássico "Balançamba", mostram que se adaptaram facilmente aos novos tempos. O legado de Aloysio de Oliveira é uma coleção de meia centena de encantamentos.
Luís Antônio Giron
1 Comments:
É,a MPB é filha da bossa-nova,e se todo mundo cantasse baixinho como Nara Leão,a sigla não teria surgido,todo mundo seria chamado de bossanovista - A Elis com o seu ''Arrastão'' e Maria Bethânia cantando ''Carcará'' viraram tudo de ponta cabeça,rs.
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