Fonotipia

Vou postar aqui comentários de CDs e DVDs musicais. Luís Antônio Giron

Thursday, July 14, 2005

O experimental Trent

O compositor americano Trent Reznor tem vivido nos últimos tempos a crise da meia-idade. Aos 40 anos, esse artista experimental e esquivo está há 16 à frente de um projeto artístico do qual é o único integrante fixo: Nine Inch Nails. A banda-projeto, que varia de músicos e recursos ao sabor das necessidades de Reznor, acaba de lançar o quinto CD em 16 anos de trajetória errática, intitulado With Teeth. Reznor tenta se recuperar da depressão e do excesso de álcool e drogas que bloquearam sua criatividade em 2002. With Teeth funciona como uma terapia reativa para o músico.
O álbum foi lançado no iníco de maio nos Estados Unidos em álbum duplo de vinil. O CD chega ao Brasil sem as letras e os créditos, que figuram em pôster no produto original. Reznor não gosta do formato reduzido do CD e convida os consumidores a fazer o download do pôster no site oficial www.nin.com. Vale a pena, pois o trabalho se organiza em torno da forma-canção e da despersonalização do indivíduo, perdido na selva selvagem de um mundo superpovoado por signos imprecisos. Visualmetne, o pôster dispõe os versos de cada canção como um sistema planetário difuso, jogado sobre um fundo marrom-escuro. É tradução visual de um desenho sonoro renovador.
Há músicos que fazem ruído para disfarçar banais melodias acompanhadas. Se cantadas com uma guitarra, virariam um canção como as outras. O teor de radicalidade de um artista pop contemporâneo pode ser medido pela capacidade que ele tem de subverter a forma canção. As composições de Reznor são irredutíves à canção. Elas compreendem ruído, edição e distorção, letras de angústia e vastas referências, que incluem correntes como grunge, industrial, drum’n’bass, gótico e vanguarda eletrônica erudi121’ta.
Mesmo assim, Reznor tenta ser menos radical em With Teeth. Afirma que o álbum contém canções. "É mais limpo e menos conceitual que os trabalhos anteriores", explicou em artigo à revista Rolling Stone. "São doze golpes na cara – sem enchimentos, sem instrumental, só direto ao ponto. São canções parentes umas das outras".
O disco soa muito direto. Traz 14 faixas, compostas, editadas e projetadas exclusivamente por Reznor. Em algumas, a bateria de Dave Grohl, líder dos Foo Fighters, se faz ouvir. Certa suavidade melódica comparece em apenas duas – a que abre e a que fecha o disco, acanção "All the Love in the World" e o episódio instrumental "Right where it belongs". O resto é ruído, que atravessa os 50 minutos do álbum como um fator determinante e estrutural. No ambiente sonoro atual, dominado pela inquietude, as invenções de Reznor fazem avançar as fronteiras da ousadia.

1 Comments:

Blogger ADEMAR AMANCIO said...

Que raio de tantos comentários estranhos!

12:43 PM  

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