O Moinho é um mundo... de sons
A música popular brasileira já mostrou ao mundo a que veio – e não há segredo para o sucesso. O que empolga nos vários subgêneros da MPB é a mistura multicultural, a fábrica de sons tão delicados como inusitados e desprovidos de preconceito. Estas lições simples e óbvias são a base para o trabalho do trio Moinho em seu álbum de estréia, Hoje de Noite (EMI). Trata-se de uma explosão inventiva que veio para marcar o ano.
O grupo é um projeto que pode lembrar Os Tribalistas: a reunião de figuras heterogêneas para uma sessão de inventividade inusitada. A idéia começou com a cantora Emanuelle Araúijo. Vocalista por longos anos da Banda Eva, Emanuelle convidou a amiga Lan Lan, baterista e pareceira de Nando Reis e Cassia Eller, para se apresentarem em shows. As reuniões despretensiosas levaram as duas a se unir ao guitarrista Toni Costa, experiente músico que gravou e se apresentou com Gal Costa, Moraes Moreira e Caetano Veloso, entre outros. O clima solto dos encontros alimentou o desejo de montar o grupo (batizado a princípio de Moinho Baiano, inspirado no samba-canção “O mundo é um moinho”, de Cartola) e fazer disco e show.
O primeiro resultado está nas doze faixas do disco, uma coleção de sambas que festejam o encontro entre Salvador e Rio de Janeiro, Pelourinho e Lapa. Os arranjos eletro-acústicos são dos produtores por Kassin e Berna Ceppas e os de meta, a cargo de Felipe Pinaud, conhecido por sua atuação na Orquestra Imperial. Há composições dos integrantes do grupo, como a que dá título ao trabalho. Destacam-se o ótimo axé´”Esnoba”, de Márcio Mello, o samba-afro “Xangô”, de Mart’nália, Toni e Lan Lan, e a canção pop “Doida de Varrer”, de Ana Carolina, sobre um poema de Chacal. .
A atmosfera lembra uma festa em ritmo de umbigada eletrônica. Não existe preconceito com o novo e o velho. Emanuelle enfrenta canções angigas, como “Baleia da Sé”, de Riachão, “O Vento e o Moinho”, de Moraes Moreira, e “Saudade da Bahia”, de Dorival Caymmi.
Moinho pode soar como a resposta evolutiva à plataforma dos Tribalistas. Emanuelle canta com segurança e afinação e a agitação rítmica de Lan Lan se casa maravilhosamente bem com as guitarras de Toni. Se alguém duvida da existência de uma nova geração talentosa na música popular brasileira, eis aí um exemplo de som contemporâneo experimental e eufórico. Tomara que Moinho chegue a um sucesso pelo menor parecido ao conquistado pelos Tribalistas.
My Blueberry Nights, Trilha Sonora de Ry Cooder, EMI
O diretor chinês Won Kar-ai costuma rechear seus dramas líricos com música inusitada. Seu gosto pelo variado Kitsche é notório, em especial nos filmes ambientados em suas cidade natal, Hong Kong. No caso de Um Beijo Roubado (My Blueberry Nights), o cenário se desloca para os Estados Unidos. O guitarrista e compositor Ry Cooder se encarrega de escolher o repertório Combinoou canções da América profunda e hits. Não poderia faltar a voz de Norah Jones, a protagonista do filme. Presentes também o jazz de Cassandra Wilson e o pop inteectual de Cat Power - que, aliás, faz uma ponta no filme.
Inclassificáveis, Ney Matogrosso, EMI
O cantor Ney Matogrosso fez uma série de shows pelo Brasil com repertório de autores contemporâneos, conhecidos e nem tantos. O resultado da turnê não foi um disco ao vivo, mas uma gravação em estúdio, com o repertório consolidado de 16 músicas. Ney volta a interpretar o amigo Cazuza (“O tempo não pára”), aborda uma canção menos conhecida de Edu Lobo e Chico Buarque (“Ode aos ratos”) e traz à tona canções pouco raras, como a que dá nome ao disco, de Arnaldo Antunes. O arranjador é Emilio Carrera, que aposta na tecladeira para ressaltar a voz aguda do grande intérprete.
Shine a Light, Rolling Stones, Universal
O “rockumentário” dirigido por Martin Scorsese teve a meta de captar uma turnê da banda inglesa Rolling Stones, no palco e nos bastidores. O diretor é tão fanático pela banda, que sempre inclui uma faixa dos Stones em suas t rilhas sonoras. Aqui é diferente: um banho de rock básico, com direito a falas de Scorsese. Entre os clássicos do quarteto, figuram “Jumpin’ Jack Flash”, “Start me up” e “Sympahty for the devil”. E há espaço ainda para canções menos conhecidas, como “Little T&A” e “Live with me”. Nesta última, o vocalista Mick Jagger divide a cena com Christina Aguillera.
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