Fonotipia

Vou postar aqui comentários de CDs e DVDs musicais. Luís Antônio Giron

Tuesday, October 10, 2006

Djavan grava ele próprio

É moda músico brasileiro fundar selos para lançar seus CDs. O cantor e compositor alagoano Djavan, 55 anos, 27 de carreira, faz um lance ainda mais ousado: ele acaba de fundar uma gravadora, a Luanda Records, e lançar o primeiro CD do catálogo: o seu próprio álbum, Vaidade, o 16º título de sua trajetória de notável misturador de ritmos e gêneros sonoros e letrista polêmico. Desta vez, o superastro não só compõe, escreve, toca, produz e arranja. “Tive de escolher a capa, contratar a assessoria de imprensa e agora estou preocupado com a distribuição do produto no Brasil e no exterior”, diz, na sua fala característica, com objetividade e rapidez que parecem não combinar com seu canto lírico. “Estou adorando desbravar um campo novo. O formato do mercado musical está se transformando por causa da pirataria e da Internet. Decidi enfrentar o desafio”.
Djavan já tinha um estúdio de última geração, O Em Casa – que, como o nome sugere, fica na casa do músico, no Recreio dos Bandeirantes, Rio – uma editora e uma banda sob seu comando, formada por seus filhos Max e João, respectivamente guitarrista e baterista, entre outros. Só faltava a infra-estrutura de gravadora. Ele conta que comprou cinco salas no prédio onde funcionava o seu escritório, no Leblon, e convidou profissionais para cuidar das vendas, centralizando as operações do país todo. Depois de um ano de trabalho, a Luanda dispõe de 24 funcionários e tem planos para alimentar o catálogo. Djavan paga tudo do próprio bolso, sem patrocínio ou sociedade. “Claro que o risco existe, O máximo que pode acontecer é não dar certo”, brinca.
Ele assume o seu romantismo natural, nos negócios e na arte. “Quero gravar músicos que não tem oportunidade. Meu negócio é música, não dinheiro.” Mesmo assim, Vaidade segue o padrão das produções das grandes gravadoras. A produção é caprichada. Djavan lança o disco em turnê nacional, a começar dia 15 em São Paulo, numa temporada de três semanas. Depois, segue para o Rio e outras capitais. Em outubro, inicia turnê internacional. “Estou me sentindo tão atrevido quanto um principiante”, jura.
O atrevimento compensou, pois Vaidade merece figurar entre os melhores discos da carreira de Djavan. A coleção habitual de melodias que se tatuam no ouvido se une a letras mais diretas metafóricas do que as converteram em marca registrada. É um belo trabalho, valorizado pelos arranjos de cordas assinados pelo próprio artista. “Já me deixei levar pelos sons quando escrevia meus versos”, reconhece. “A gente amadurece e toma juízo. Hoje dou mais atenção às letras, mas o meu jeito letra está lá.” Djavan letrista e melodista se encontra em fase inspirada. Já vão distantes os tempos de versos arrevezados como os de “Açaí”. A música de trabalho, “Se Acontecer” - na trilha da novela Senhora do Destino - é uma toada com escalas flamencas e versos como “a tenda da noite/ enche de sombra/ um sonhar vazio”. Há sambas “djavaneses”, como os belos “Celeuma” e “Bailarina”. Este traz um ótimo duelo entre a guitarra de Djavan e o cavaquinho de Hamilton de Holanda. A faixa-título é uma valsa romântica sobre a vaidade masculina. E “Tainá-flor”, como define o músico, “uma mistura de calango e maxixe”, repleta de achados rítmicos e melódicos. A música flui com naturalidade e grande harmonia. Djavan dono de gravadora é o músico na melhor das liberdades.

1 Comments:

Blogger ADEMAR AMANCIO said...

Ele mesmo assume que se ''deixava levar pelos sons quando fazia versos'',mas ele reclama quando dizem que seus versos são sem sentido,eu acho que está dentro do padrão MPB.

7:49 AM  

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