Djavan grava ele próprio
É moda músico brasileiro fundar selos para lançar seus CDs. O cantor e compositor alagoano Djavan, 55 anos, 27 de carreira, faz um lance ainda mais ousado: ele acaba de fundar uma gravadora, a Luanda Records, e lançar o primeiro CD do catálogo: o seu próprio álbum, Vaidade, o 16º título de sua trajetória de notável misturador de ritmos e gêneros sonoros e letrista polêmico. Desta vez, o superastro não só compõe, escreve, toca, produz e arranja. “Tive de escolher a capa, contratar a assessoria de imprensa e agora estou preocupado com a distribuição do produto no Brasil e no exterior”, diz, na sua fala característica, com objetividade e rapidez que parecem não combinar com seu canto lírico. “Estou adorando desbravar um campo novo. O formato do mercado musical está se transformando por causa da pirataria e da Internet. Decidi enfrentar o desafio”.
Djavan já tinha um estúdio de última geração, O Em Casa – que, como o nome sugere, fica na casa do músico, no Recreio dos Bandeirantes, Rio – uma editora e uma banda sob seu comando, formada por seus filhos Max e João, respectivamente guitarrista e baterista, entre outros. Só faltava a infra-estrutura de gravadora. Ele conta que comprou cinco salas no prédio onde funcionava o seu escritório, no Leblon, e convidou profissionais para cuidar das vendas, centralizando as operações do país todo. Depois de um ano de trabalho, a Luanda dispõe de 24 funcionários e tem planos para alimentar o catálogo. Djavan paga tudo do próprio bolso, sem patrocínio ou sociedade. “Claro que o risco existe, O máximo que pode acontecer é não dar certo”, brinca.
Ele assume o seu romantismo natural, nos negócios e na arte. “Quero gravar músicos que não tem oportunidade. Meu negócio é música, não dinheiro.” Mesmo assim, Vaidade segue o padrão das produções das grandes gravadoras. A produção é caprichada. Djavan lança o disco em turnê nacional, a começar dia 15 em São Paulo, numa temporada de três semanas. Depois, segue para o Rio e outras capitais. Em outubro, inicia turnê internacional. “Estou me sentindo tão atrevido quanto um principiante”, jura.
O atrevimento compensou, pois Vaidade merece figurar entre os melhores discos da carreira de Djavan. A coleção habitual de melodias que se tatuam no ouvido se une a letras mais diretas metafóricas do que as converteram em marca registrada. É um belo trabalho, valorizado pelos arranjos de cordas assinados pelo próprio artista. “Já me deixei levar pelos sons quando escrevia meus versos”, reconhece. “A gente amadurece e toma juízo. Hoje dou mais atenção às letras, mas o meu jeito letra está lá.” Djavan letrista e melodista se encontra em fase inspirada. Já vão distantes os tempos de versos arrevezados como os de “Açaí”. A música de trabalho, “Se Acontecer” - na trilha da novela Senhora do Destino - é uma toada com escalas flamencas e versos como “a tenda da noite/ enche de sombra/ um sonhar vazio”. Há sambas “djavaneses”, como os belos “Celeuma” e “Bailarina”. Este traz um ótimo duelo entre a guitarra de Djavan e o cavaquinho de Hamilton de Holanda. A faixa-título é uma valsa romântica sobre a vaidade masculina. E “Tainá-flor”, como define o músico, “uma mistura de calango e maxixe”, repleta de achados rítmicos e melódicos. A música flui com naturalidade e grande harmonia. Djavan dono de gravadora é o músico na melhor das liberdades.
1 Comments:
Ele mesmo assume que se ''deixava levar pelos sons quando fazia versos'',mas ele reclama quando dizem que seus versos são sem sentido,eu acho que está dentro do padrão MPB.
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