Fonotipia

Vou postar aqui comentários de CDs e DVDs musicais. Luís Antônio Giron

Tuesday, October 10, 2006

Gal Costa de volta ao presente

A cantora baiana Gal Costa viveu as duas últimas décadas devotada a projetos antológicos, reunindo a produção de grandes compositores (Chico Buarque, Tom Jobim etc.), numa tentativa exitosa de reinterpretar o passado recente da música popular brasileira. Cobrou-se dela, ao longo desses experimentos absolutamente legítimos numa artista do seu porte, que ela “se atualizasse” e procurasse o repertório novo. Como a índole de Gal mescla tranqüilidade e teimosia, a intérprete demorou algum tempo para se decidir a fazer um álbum apenas com canções inéditas, recolhidas de compositores conhecidos e jovens talentos.
Depois de quase um ano de seleção de repertório (centenas de arquivos sonoros, que ela ouviu e editou em seu laptop), reuniões com o maestro e pianista César Camargo Mariano, ela finalmente chegou à síntese de seu trabalho de pesquisa e interpretação. São 14 as faixas do CD Hoje, lançado por sua nova gravadora, a Trama, em São Paulo. O álbum marca o retorno dessa que é uma das grandes músicas da música brasileira ao futuro da arte que ajudou a construir. É um CD que renova o canto de Gal e mostra onde estão os olhos d’água do novo som.
Não se espere, porém, arremetidas na direção da vanguarda ou curvas perigosas em gêneros em moda, como electro e hip-hop. A grande intérprete escolheu músicas que se parecem, no fim das contas, com o que ela sempre cantou, com os fundamentos sempre nítidos de sua arte. Ei-la com a tessitura se alçando aos agudos, acompanhada pelo piano sábio de César Camargo Mariano, que se sobressai, mas conta com uma banda elétrica, com o baixista Robinho, o bateirsta Danel de Paula e a guitarra acústica de Marcus Teixeira. Edu Martins, ao baixo acústico, enfeita faixas como a inédita “Embebedado”, parceria de Chico Buarque com o professor da USP Zé Miguel Wisnik, uma das mais inusitadas faixas do disco, pela estilo erudito da melodia, quase uma ária de ópera, o compasso composto e a letra lírico-etílica: “Pendurado de banda/ No vão da varanda; Do prédio a rodar/ Nãos ei mais se é o mundo/ Que cai aos meus pés; Ou de peras pro ar/ Embebado de você”.
Ouvir o CD é sentir o ouvido fluir com sons e versos de alto extrato. Há três deliciosas parcerias do músico africano Lokua Kanza com o letrista paulistano Carlos Rennó (“Mar e Sol”, “Te Adorar” e “Sexo e Luz”), um lamento grave e inédito de Caetano Veloso - “Luto”, quase uma radiografia da desilusão e da perda de inocência do Brasil utópica, uma crítica ao acanalhamento do carnaval: “3sa festa que meu pai me deu para terino espritiual/ Agora é só cinza na cabeça/ Deapareça, por favor, da minha frente”). E há pequenos engastes preciosos, como o ijexá moderninho do baiano Péri (“Voyeur”), a surpreendente bossa-nova “Pra que cantar”, do estreante Nuno Ramos (sim, ele próprio, o artista plástico de vanguarda paulista), e baladas deliciosas de Junio Barreto, Moisés Santana, Tito Bahiense e Moreno Veloso, filho de Caetano, autor da lentíssima “Hoje” e o samba “Um passo à frente”, em parceria co Quito Ribeiro, uma boa música para tocar na rádio. Mas quem vai esperar pela grande Gal tocar na rádio? Melhor é ir direto à fonte, uma das fontes da nossa música.







Contratenor, Edson Cordeiro (Paulus)
O nono CD em 20 anos de carreira do contraltista e ator paulista de Santo André é uma declaraçãod e amor à música do século XVIII, em suas vertentes barroca, clássica e rococó. Com poderoso ímpeto vocal, Edson canta árias de Georg Phillip Haendel, Antonio Vivaldi, Gluck, Mozart e Massenet. Este último entrou na dança porque se trata de uma adaptação de Bach, a famosa “Ave Maria”. Acompanhado pelo jovem pianista Antonio Vaz Leme, Cordeiro ergue a voz para mostrar que a música clássica tem lugar de honra da cultura contemporãnea.



Pau Brasil 2005e , Pau Brasil (Biscoito Fino)
Já fazia algum tempo que o quinteto instrumental devia um trabalho de peso para o ouvinte. Eis o Pau Brasil na sua melhor fase. Formado por Rodolfo Stroeter (baixo acústico e elétrico), Teco Cardoso (sax, flauta), Nelson Ayres (teclados e piano), Ricarod Mosca (bateria) e Paulo Bellinati (violões), o conjunto mostra que a música instrumental brasileira só tem o defeito de não possuir um termo sintético – algo como jazz. Porque é original e mereceria. Nas oito faixas, exibem com composições próprias e se confrontam com mestres, como “Na Baixa do Sapateiro”, de Ary Barroso, e dois movimentos das “Bachianas Brasileiras nº 5”: Aria da Cantilena e Dança Martelo. O que domina é a paleta timbrística e a liberdade de ser profundo sem ser hermético.


Tom Jobim Inédito (Biscoito Fino)
Uma gema rara da carreira de Tom Jobim é este registro da excursão que o compositor carioca (1927-1994) fez em 1987 pelo Brasil, em comemoração ao sexagésimo aniversário. Seu grupo era formado pelos filhos Paulinho e Elizabeth, a mulher Ana, e os amigos Jacques (violoncelo) e Paula Morelenbaum, Simone e Danilo Caymmi, Maucha Adnet, Sebastião Neto e Paulo Braga. Ali estão seus sucessos, retrabalhados em arranjos e harmonizações diferentes. O CD, gravado para a Odebrech, foi lançado em tiragem restrita em 1995. Pela primeira vez, o fã de Tom pode ter um dos melhores momentos da última fase de sua carreira.

2 Comments:

Blogger ADEMAR AMANCIO said...

Muito bom.

9:46 AM  
Blogger ADEMAR AMANCIO said...

Edson Cordeiro,contratenor ou contraltista?

10:41 AM  

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