Luciana Souza converte tradição em surpresa
Unir o jazz com a música popular brasileira é uma missão das mais difíceis para os cantores. Em geral, os jazzistas que empreendem o caminho do sul alcançam resutados péssimos, porque acabam produzindo um Frankenstein sonoro que não convence ninguém. Os vocalistas brasileiros se dão melhor na tarefa, especialmente aqueles que se radicam nos Estados Unidos. Ouçam-se os casos de Flora Purim e Eliane Elias, brasileiras que consolidaram as carreiras nos EUA. A paulistana Luciana Sousa pertence a esta última categoria. Vive há mais de 20 anos nos Estados Unidos, formou-se no Berklee College of Music, fez mestrado no Conservatório da Nova Inglaterra e hoje dá aulas de canto na Manhattan School of Music. Mas o que importa em Lucian não é seu currículo universitário e suas virtudes como produtora, arranjadora e professora. Ela conseguiu chegar ao topo das paradas americanas de jazz por seu enorme talento vocal. Foi cantando o repertório brasileiro no CD Brazilian Duos (2002) que ela foi indicada para o Grammy de melhor cantora de jazz. Mais uma possibilidade de Grammy aconteceu em 2003, pelo álbum Norte e Sul, em que mesclava jazz e bossa nova, a partir de uma abordagem renovadora.
O sexto CD da carreira de Luciana, Duos II (Sunnyside/Universal), é um de seus melhores trabalhos. O estilo pode parecer com Brazilian Duos. Como neste trabalho, ela coloca sua voz cultivada para enfrentar canções brasileiras, com acompanhamento de quatro violonistas brasileiros: Romero Lubambo e Marco Pereira, com carreiras consolidadas, e os mais jovens Swami Jr. e Guilherme Monteiro, donos de um estilo mais pop.
São 12 canções. O programa envereda por Nélson Cavaquinho (“A Flor e o Espinho” e “Juízo Final”), Paulinho da Viola ( “Nos Horizontes do Mundo”), Chico Buarque (“Trocando em Miúdos”) e até um desconhecido de Caetano No Carnaval (em colaboração com Jota Veloso). A melhor faixa é o clássico “Modinha” (Tom Jobim-Vinicius de Moraes). Luciana mostra sua faceta de compositora na balançante “Muita Bobeira” – um samba-jazz contemporâneo bem interessante.
No disco, Luciana mostra sua maneira especial de interpretar canções,. Ela não explora dramas, mas busca passear pelo passado remoto e recente como a trazer à tona situações inesperadas. É uma exploradora do passado, sem tiques arqueológicos. “Não se trata de restatar cançõs, quero me juntar a elas, sempre aberta às surpresas do caminho”. Que o ouvinte vá junto.
Menino do Rio, Mart’nália (Quitanda)
A cantora carioca não escandaliza, mas impressiona neste quinto CD em quase 20 anos de carreira, primeiro para o selo dirigido pela cantora Maria Bethânia. Num momento em que suas colegas de formação mais novas procuram o samba de raiz em trabalhos arqueológicos (como Teresa Cristina e Mônica Salmaso), a filha de Martinho da Vila – que teria tudo para abraçar novamente o samba – aposta na variedade de gêneros, incluindo aí o samba contemporâneo. A faixa mais estimulante entre as 15 do CD é o samba-groove “Cabide”, de Ana Carolina. As alusões trazem segundos sentidos poéticos e a música, grudante aos ouvidos. Ótimos arranjos do maestro e violonista Jaime Alem.
Pérolas Raras, Elis Regiina (Universal)
Uma verdadeira arca do tesouro com gravações raras e inéditas do começo da carreira da cantora gaúcha (1945-1982), considerada até hoje a maior de todas da MPB. São 14 faixas, todas bonitas, todas com a interpretação poderosa de Elis Regina. Vale enumerar: “Arrastão”, na versão em compacto simples, lançado em 1965, como alternativa à versão ao vivo – que ficou famosa; “Menino das Laranjas” (Théo de Barros), compacto simples de 1965; uma versão do samba “É com esse que eu vou” (Pedro Caetano), do LP Phono 73, de 1973. Uma curiosidade especial é “A Coruja” (Vinicius de Moraes-Toquinho), canção infantil gravada para o LP A arca de Noé, da dupla. Essencial.
Kurt Masur, Roberto Minczuk e Orquestra Acadêmica (Biscoito Clássico) )
Mestre e pupilo juntos num álbum duplo. Os maestros Kurt Masur, alemão, e Roberto Minczuk, paulista, registraram a produção da orquestra dos alunos durante o Festival de Campos do Jordão de 2005. A chamada Orquestra Acadêmica foi considerada por muitos a melhor orquestra do Brasil. Talvez seja exagero,mas o álbum duplo vale a pena ser escutado. A orquestra realmente está ótima, e é difícil distinguir os golpes de batuta dos dois regentes. O CD de Masur traz Adagio para Cordas op. 11, de Samuel Barber, a Abertura Festival Cadêmico, de Johannes Brahms e Sexta Sinfonia em Ré Maior, de Gustav Mahler. O disco de Miczuc compreende Quadros de uma Exposição, de Mussorgski, Abertura de O Guarani, de Carlos Gomes, e Variações Sinfônicas de Almeida Prado. Um álbum duplo importante e ótimo de ouvir.
1 Comments:
Elis Regina,''considerada até hoje a maior de todas da MPB'',vivi pra ler essa frase escrita pelo Giron,só eu sei o que ele já escreveu sobre a cantora,era mais provocação mesmo.
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