O álbum que Simone devia aos fãs
Simone completa 60 anos (em dezembro) exibindo uma incrível capacidade de recuperação artística. Seu novo CD, Na Veia (Biscoito Filme), é um dos melhores da carreira de 36 anos dessa contralto grave e dramática, que pôs a voz a serviço do sucesso popular. A crítica celebrou o retorno da cantora baiana aos bons tempos em que lançava canções e conseguia emocionar. De fato, era o álbum que a intérprete devia aos seus fãs históricos. Porque a maioria a abandonou na jornada das décadas e da mudança de gosto.
No entanto, sua retomada artística vem de algum tempo. Basta prestar atenção em seus últimos trabalhos. Em 2004, ela veio com Baiana da Gema (EMI), um álbum precioso só com músicas inéditas de Ivan Lins, compositor que foi importante para ela desde o início da carreira. É dela a interpretação clássica da canção “Começar de novo”, de Ivan e Vitor Martins, que veio a se tornar seu primeiro sucesso. A composição consta de seu quinto LP, o lendário Gota D’Água (EMI-Odeon), quando tornou célebre a canção que deu nome ao disco, de Chico Buarque. Em 2008, mais uma vez Simone impressionou com o CD Amigo é Casa (Biscoito Fino), ao lado de Zélia Duncan, pois ali mostrou que era capaz de se dar bem em qualquer gênero, incluindo o rock e o pop.
Na Veia faz parte dessa zona de evolução de Simone. O disco se projeta além do mero projeto de aniversário. É uma coleção de canções inéditas (o primeiro em cinco anos) despretensiosas, românticas e... tomadas pelo pop. Tocariam no rádio, caso o rádio ainda tocasse MPB. “Eu sempre falei e cantor de amor”, diz Simone, na apresentação do CD. “Para este trabalho, liguei para todos os compositores que me enviaram canções, ou até mesmo os encontrei, e disse: é um trabalho feliz, para cima, que fala do amor em todas as suas formas, jeitos e maneiras.” Leia-se: ela está mais sincera e direta do que nunca na expressão dos sentimentos.
A voz superafinada da intéprete é uma das mais poderosas do estilo tardio da MPB. E encontrou veículos ideais na produção de Rodolfo Stroeter e nos arranjos de Nelson Ayres, Luiz Brasil e Rildo Hora. Nada de exageros, apenas um contorno suave para destacar a abordagem lírica de Simone. A canção lenta “Hóstia” (Eramos Carlos-Marcos Valle) é um dos pontos altos do disco pela suavidade da leitura. Entre os autores famosos que forneceram boas canções figuram Paulinho da Viola (“Ame”) e Martinho da Vila (“Na minha veia”). Nas reinterpretações, o destaque é “Geraldinos e Arquibaldos”, canção de protesto sub-reptício (como era moda na época) de Gonzaguinha que foi marcante nos anos 70 e estava esquecida. Simone despe a música de ideologia e lhe confere um caráter universal.
1 Comments:
O exagero as vezes é necessário.
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