Sade: sempre igual e cada vez melhor
A cantora inglesa Sade possui três característica que a tornam única: a voz marcante, a repetição incessante da mesma fórmula e as longas ausências. Ao longo de 25 anos de carreira fonográfica, a artista lançou apenas seis álbuns. E espaçou a aparição de seus discos, conforme diz em seu site oficial, porque precisou se dedicar à família e aos assuntos pessoais. Ela acaba de lançar o CD Soldier of Love (Sony Music), seu primeiro álbum em nove anos. Antes, o CD Lovers Rock, lançado em 2001, havia demorado dez anos para sair. E antes assim por movimento retrógrado, até chegar ao primeiro CD, de 1984, que continha o cool soul “Smooth operator”, música que marcou a geração dos anos 80 e pode ser ouvida novamente sem perda de qualidade. Ao contrário, à medida que as interpretações e os padrões auditivos regridem, a música de Sade se distingue.
Sade continua cada vez mais igual ao que sempre e foi e, por isso mesmo, cada vez melhor. Outro motivo do aperfeiçoamento da arte da cantora é que suas gravações ganham relevo à medida que o tempo passa e a arte do canto vai se tornando algo como um elo perdido na história da cultura. Vivem-se hoje tempos de cantoras que cantam alto quando não gritam e apostam no virtuosismo exibicionista em que a interpretação está unida ao desempenho em palco. As cantoras hoje se portam como atrizes celebridades. Sade é o avesso de tudo isso. Por comparação, o igual que sempre cantou soa até revolucionário – até o ponto em que a música pop consegue alterar alguma coisa.
Seu novo álbum é uma coleção de dez canções em que se misturam soul, cool jazz e canção romântica. O trio que toca com ela desde o início de carreira voltou a se encontrar: o baixista Paul Denman, o guitarrista e saxofonista Stuart Matthewman e o tecladista Andrew Hale. A reunião aconteceu no final de 2008 no estúdio Real World de Peter Gabriel, em Gloucestershire, região rural ao sul de Londres, onde Sade mora há alguns anos em uma casa de campo, com sua filha de 14 anos e seu atual companheiro. Ganhou muito dinheiro com seus discos e show e não se rendeu à produção em massa nem à cultura da celebridade.
Sade nasceu Helen Folasade Adu nasceu na Nigéria, filha de uma enfermeira inglesa e um cientista nigeriano, em 1959. Em 1981, quando cursava faculdade de moda em Londres, formou com os músicos acima citados a banda, que também atende pelo nome de Sade. Seus discos (na época, eram LPs de vinil) atingiram os primeiros lugares nas paradas do mundo todo – e Soldier of Love não foi diferente. Isso só seria um espanto caso Sade não estivesse envolvida. Ela repete as fórmulas de sucesso também, apesar da mudança do tipo de público musical desde que começou a carreira.
O disco traz um feixe de canções lentas idênticas entre si e às coleções anteriores. Uma única balada, justamente a que dá título ao disco, inova nos arranjos e até no tipo de melodia. Trata-se de uma canção com cadência militar, assim ressaltando o caráter pacifista da declaração da cantora: “Eu fui soldado do amor por toda minha vida”. Sade é sublime pela sua mesmice. Ela é a prova de que boa música não precisa se renovar para surpreender. Viva a repetição!
Bruch & Brahms Violin Concertos, Sarah Chang, Dredner Philarmonie, Kurt Masur, EMI Classics
A música erudita parece constituir um dos poucos oásis na produção do mercado discográfico, hoje vivendo uma debandada para a indústria de espetáculos. Este é um dos poucos CDs clássicos lançados no Brasil recentemente. A violinista chinesa Sarah Chang se une à Orquestra Filarmônica de Dresden, regida pelo maestro alemão Kurt Masur para um programa romântico germânico. Eles executam o Concerto para violino nº 1 em Sol menor, Op. 26, de Max Bruch, e o Concero para violino em Ré, Op. 77, de Johannes Brahms. A pasmosa habilidade de Sarah em fluir em passagens difíceis se une à alta sensibilidade dos músicos em conjunto. É raro ouvir algo do gênero hoje em dia.
Meia-noite Meio dia, Chico Pinheiro, Buriti
O violonista paulistano Chico Pinheiro altera seu rumo no segundo disco em oito anos de carreira profissional. Aqui, em vez de peças de violão, ele aposta em canções bem brasileiras, levadas por seu violão sensível e sua voz nutrida nas lições de Edu Lobo e Francis Hime, além de convidados. Pinheiro é uma das melhores figuras da nova geração emepebista. Entre as pariticipações, estão Chico César, Lenine e sua madrinha (ou ele foi padrinho dela?) Maria Rita.
The Sea, Corinne Bailey Rae, Virgin
Na década que passou, a Grã-Bretanha forneceu uma safra de grandes cantoras populares. Corinne Bailey Rae é uma deleas, além de compositora superdodata e sofisticada, com o ouvido nas lições dos grandes compositores da canção pop, em especial os de soul music. Nesse quinto álbum de carreira, ela mostra ainda maior intensidade na interpretação e uma certa tristeza nos versos. Nã é para menos. Ela perdeu o marido em um acidente e passou dois anos se recuperando por meio da música. Sua voz, como resultado, está mais grave e profunda.